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PROJETO CRIANDO ASAS PARA A IMAGINAÇÃO
Professor Responsável
Aretusa Araújo Rodrigues Nery
profaretusanery@gmail.com
Resumo
Reconhecer a importância da literatura infantil e incentivar a formação do hábito de leitura na idade em que todos os hábitos se formam, isto é, na infância. Neste sentido, a literatura infantil é um caminho que leva a criança a desenvolver a imaginação, emoções e sentimentos de forma prazerosa e significativa. O presente estudo inicia com um breve histórico da literatura infantil, apresenta conceitos de linguagem e leitura, enfoca a importância de ouvir histórias e do contato da criança desde cedo com o livro, com os contos de fada e finalmente esboça algumas estratégias para desenvolver o hábito de ler. Cabe destacar a leitura como um processo de busca da curiosidade, do prazer e do conhecimento.
Fala-se de prazer, pois a responsabilidade da escola não é apenas fazer com que as crianças aprendam a ler e a escrever, mas que aprendam e o façam com emoção e significado para o desenvolvimento humano.
Justificativa
O estudo realizado tem por objetivo, verificar a contribuição da literatura infantil no desenvolvimento social, emocional e cognitivo da criança. Ao longo dos anos, a educação preocupa-se em contribuir para a formação de um indivíduo crítico, responsável e atuante na sociedade. Isso porque se vive em uma sociedade onde as trocas sociais acontecem rapidamente, seja através da leitura, da escrita, da linguagem oral ou visual.
Diante disso, a escola busca conhecer e desenvolver na criança as competências da leitura e da escrita e como a literatura infantil pode influenciar de maneira positiva neste processo. Assim, Bakhtin (1992) expressa sobre a literatura infantil abordando que por ser um instrumento motivador e desafiador, ele é capaz de transformar o indivíduo em um sujeito ativo, responsável pela sua aprendizagem, que sabe compreender o contexto em que vive e modificá-lo de acordo com a sua necessidade.
Esta pesquisa visa a enfocar toda a importância que a literatura infantil possui, ou seja, que ela é fundamental para a aquisição de conhecimentos, recreação, informação e interação necessários ao ato de ler. De acordo com as idéias acima, percebe-se a necessidade da aplicação coerente de atividades que despertem o prazer de ler, e estas devem estar presentes diariamente na vida das crianças, desde bebês. Conforme Silva (1992, p.57).
“bons livros poderão ser presentes e grandes fontes de prazer e conhecimento. Descobrir estes sentimentos desde bebezinhos poderá ser uma excelente conquista para toda a vida.”
Existem dois fatores que contribuem para que a criança desperte o gosto pela leitura: curiosidade e exemplo. Neste sentido, o livro deveria ter a importância de uma televisão dentro do lar. Os pais deveriam ler mais para os filhos e para si próprios. No entanto, de acordo com a Unesco (2005) somente 14% da população tem o hábito de ler, portanto, pode-se afirmar que a sociedade brasileira não é leitora. Nesta perspectiva, cabe a escola desenvolver na criança o hábito de ler por prazer, não por obrigação.
A preocupação com a formação de leitores é algo antigo, há constantes reclamações acerca da falta de interesse e hábito da leitura, acrescidas ao fato que as dificuldades ao ler, compreender e interpretar acarretam conseqüências graves para o processo de aprendizagem. Para mudar este quadro o primeiro passo é desvincular a leitura da idéia de cobrança. Precisamos estimular uma leitura sem cobranças pré-determinadas e rígidas, mas acompanhada de um papo crítico, para que a criança possa formular seus critérios e suas opiniões. É de fundamental importância que a escola tenha a leitura como um valor cultural e a pratique de maneira envolvente para professores e alunos.
Referenciais Teóricos
Os primeiros livros direcionados ao público infantil surgiram no século dezoito. Autores como La Fontaine e Charles Perrault escreviam suas obras, enfocando principalmente os contos de fadas. De lá pra cá, a literatura infantil foi ocupando seu espaço e apresentando sua relevância. Com isto, muitos autores foram surgindo, como Hans Christian Andersen, os irmãos Grimm e Monteiro Lobato, imortalizados pela grandiosidade de suas obras. Nesta época, a literatura infantil era tida como mercadoria, principalmente para a sociedade aristocrática. Com o passar do tempo, a sociedade cresceu e modernizou-se por meio da industrialização, expandindo assim, a produção de livros.
A partir daí os laços entre a escola e a literatura começam a se estreitar, pois para adquirir livros era preciso que as crianças dominassem a língua escrita e cabia a escola desenvolver esta capacidade. De acordo com Lajolo & Zilbermann.
“a escola passa a habilitar as crianças para o consumo das obras impressas, servindo como intermediária entre a criança e a sociedade de consumo”. (2002, p.25)
Assim, surge outro enfoque relevante para a literatura infantil, que se tratava na verdade de uma literatura produzida para adultos e aproveitada para a criança. Seu aspecto didático-pedagógico de grande importância baseava-se numa linha moralista, paternalista, centrada numa representação de poder. Era, portanto, uma literatura para estimular a obediência, segundo a igreja, o governo ou ao senhor. Uma literatura intencional, cujas histórias acabavam sempre premiando o bom e castigando o que é considerado mal. Segue à risca os preceitos religiosos e considera a criança um ser a se moldar de acordo com o desejo dos que a educam, podando-lhe aptidões e expectativas.
Até as duas primeiras décadas do século XX, as obras didáticas produzidas para a infância, apresentavam um caráter ético-didático, ou seja, o livro tinha a finalidade única de educar, apresentar modelos, moldar a criança de acordo com as expectativas dos adultos. A obra dificilmente tinha o objetivo de tornar a leitura como fonte de prazer, retratando a aventura pela aventura. Havia poucas histórias que falavam da vida de forma lúdica, ou que faziam pequenas viagens em torno do cotidiano, ou a afirmação da amizade centrada no companheirismo, no amigo da vizinhança, da escola, da vida.
Essa visão de mundo maniqueísta, calçada no interesse do sistema, passa a ser substituída por volta dos anos 70 e a literatura infantil passa por uma revalorização, contribuída em grande parte pelas obras de Monteiro Lobato, no que se refere ao Brasil. Ela então, se ramifica por todos os caminhos da atividade humana, valorizando a aventura, o cotidiano, a família, a escola, o esporte, as brincadeiras, as minorias raciais, penetrando até no campo da política e suas implicações.
Hoje a dimensão de literatura infantil é muito mais ampla e importante. Ela proporciona à criança um desenvolvimento emocional, social e cognitivo indiscutíveis. Segundo Abramovich (1997) quando as crianças ouvem histórias, passam a visualizar de forma mais clara, sentimentos que têm em relação ao mundo. As histórias trabalham problemas existenciais típicos da infância, como medos, sentimentos de inveja e de carinho, curiosidade, dor, perda, além de ensinarem infinitos assuntos.
É através de uma história que se pode descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética, outra ótica... É ficar sabendo história, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia, etc. sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula (Abranmovich, 1997, p.17)
Neste sentido, quanto mais cedo à criança tiver contato com os livros e perceber o prazer que a leitura produz, maior será a probabilidade dela tornar-se um adulto leitor. Da mesma forma através da leitura a criança adquire uma postura crítico-reflexiva, extremamente relevante à sua formação cognitiva.
Quando a criança ouve ou lê uma história e é capaz de comentar, indagar, duvidar ou discutir sobre ela, realiza uma interação verbal, que neste caso, vem ao encontro das noções de linguagem de Bakhtin (1992). Para ele, o confrontamento de idéias, de pensamentos em relação aos textos, tem sempre um caráter coletivo, social.
O conhecimento é adquirido na interlocução, o qual evolui por meio do confronto, da contrariedade. Assim, a linguagem segundo Bakthin (1992) é constitutiva, isto é, o sujeito constrói o seu pensamento, a partir do pensamento do outro, portanto, uma linguagem dialógica.
A vida é dialógica por natureza. Viver significa participar de um diálogo: interrogar, escutar, responder, concordar, etc. Neste diálogo, o homem participa todo e com toda a sua vida: com os olhos, os lábios, as mãos, a alma, o espírito, com o corpo todo, com as suas ações. Ele se põe todo na palavra e esta palavra entra no tecido dialógico da existência humana, no simpósio universal. (Bakhtin, 1992, p112)
E é partindo desta visão da interação social e do diálogo, que se pretende compreender a relevância da literatura infantil, que segundo afirma Coelho (2001, p.17).
“é um fenômeno de linguagem resultante de uma experiência existencial, social e cultural.”
A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto. Segundo Coelho (2002) a leitura, no sentido de compreensão do mundo é condição básica do ser humano.
A compreensão e sentido daquilo que a cerca inicia-se quando bebê, nos primeiros contatos com o mundo. Os sons, os odores, o toque, o paladar, de acordo com Martins (1994) são os primeiros passos para aprender a ler. Ler, no entanto é uma atividade que implica não somente a decodificação de símbolos, ela envolve uma série de estratégias que permite o indivíduo compreender o que lê. Neste sentido, relata os PCN’s (2001, p.54.):
Um leitor competente é alguém que, por iniciativa própria, é capaz de selecionar, dentre os trechos que circulam socialmente, aqueles que podem atender a uma necessidade sua. Que consegue utilizar estratégias de leitura adequada para abordá-los de forma a atender a essa necessidade.
Assim, pode-se observar que a capacidade para aprender está ligada ao contexto pessoal do indivíduo. Desta forma, Lajolo (2002) afirma que cada leitor, entrelaça o significado pessoal de suas leituras de mundo, com os vários significados que ele encontrou ao longo da história de um livro, por exemplo.
A leitura é concebida como a busca da produção de sentidos ao texto pelo leitor, ou seja, o texto possibilita um diálogo entre autor (suas idéias impressas no texto) e o leitor. Sendo assim, possibilita uma pluralidade de sentidos possíveis, pois as experiências anteriores de leitura de um sujeito e seu contexto histórico, social e cultural interferem nos sentidos possíveis que ele pode produzir a partir de um texto. O leitor, ao produzir sentidos a partir da leitura, constitui-se por meio dela, modificando seu modo de pensar a respeito de si mesmo, do mundo e de suas relações.
Nas palavras de Larrosa (1998), “ler e escrever é colocar-se em movimento, é sair sempre para além de si mesmo, é manter sempre aberta à interrogação acerca do que se é. Na leitura e na escrita, o eu não deixa de se fazer, de se desfazer e de se refazer” (p.51). Neste sentido a leitura é uma atividade que pode participar da formação do sujeito, uma vez que lhe possibilita repensar e ampliar constantemente suas visões de mundo, modificando sua forma de agir sobre a realidade.
Acrescentando, de acordo com Grotta “podemos dizer que a formação de leitores vai se constituindo a partir da natureza e da qualidade da relação que o sujeito vai estabelecendo, ao longo de sua vida, com o material escrito, seja direta (lendo por si mesmo) ou indiretamente (leitura do outro para si)” (p. 134). Sendo assim, quando pensamos em formar leitores, devemos estar atentos aos eventos de letramento que os educandos participam, mas também ao contexto social, cultural e afetivo que permeia ou media as relações do sujeito com a leitura. Eventos de letramento entendidos na definição de Kleiman como “toda prática social que envolve situações de leitura e escrita, como sistema simbólico e como tecnologia, em contextos específicos para objetivos específicos”.
O ambiente escolar precisa ser caracterizado como um espaço relevante para a formação de leitores, promovendo interações significativas envolvendo a leitura. O professor tem um papel de destaque neste processo à medida que demonstra entusiasmo, prazer e paixão pela leitura, ou seja, demonstra-se leitor para seus alunos. Além de ler e comentar suas leituras, o professor deve indicar livros, refletir com alunos a respeito deles, apresentar obras e autores, enfim, envolver-se na leitura com eles e para eles. “O professor, ao demonstrar-se leitor para os alunos, transforma-se em modelo de leitor para eles, em alguém que, por demonstrar prazer e entusiasmo pela leitura, motiva o aluno a ler” (Grotta, p. 149).
Tornar constante o nome verdadeiro da história, do escritor, do ilustrador e atribuir valor às imagens contribuem para a compreensão do que significa uma obra completa e autoria. Podemos lembrar ainda que através dos eternos e belos contos de fadas, mexemos com conteúdos essenciais da condição humana, com questões, valores e conflitos pessoais (Abramovich, 1985). Além destes fatores, o indivíduo, ao ler desinteressadamente e voluntariamente quaisquer que sejam os suportes escolhidos, estará exercitando de maneira fecunda toda forma de inter ou pluridisciplinaridade, uma vez que a literatura reúne em uma obra horizontes variados nos campos do conhecimento humano.
Quanto mais variados e interessantes forem os textos apresentados aos educandos, maior será a chance de eles tornarem-se leitores e de atingirmos e contemplarmos a individualidade de cada um. Além da relação íntima que o leitor pode e deve ter com o texto, é sabido que este precisa relacionar-se com os mais diversos tipos de textos. Os interesses diversificados e diferenciados pela leitura existentes em qualquer grupo que interage, gera um desencadear de expectativas que levam seus integrantes à pluralidade e ampliação de suas leituras e, conseqüentemente, dos seus saberes. Foucambert destaca:
“Para aprender a ler (...) é preciso estar envolvido pelos escritos os mais variados, encontrá-los, ser testemunha de e associar-se à utilização que os outros fazem dele – quer se trate dos textos da escola, do ambiente, da imprensa, dos documentários, das obras de ficção. Ou seja, é impossível tornar-se leitor sem essa contínua interação com um lugar onde as razões para ler são intensamente vividas” (1994, p. 31).
Para fazermos uma outra reflexão, podemos citar “Quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leitura, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis” (Ítalo, 1997).
Ouvir histórias, ler, ou simplesmente folhear os livros, brincar com eles, descobrir palavras e imagens, são maneiras e possibilidades de encantamento, da construção da personalidade e enriquecimento do imaginário do indivíduo. Finalizando citamos Rubem Alves
“A educação terá completado sua missão se conseguir despertar o prazer de ler”.
A importância de ouvir histórias
Ouvir histórias é um acontecimento tão prazeroso que desperta o interesse das pessoas em todas as idades. Se os adultos adoram ouvir uma boa história, um “bom causo”, a criança é capaz de se interessar e gostar ainda mais por elas, já que sua capacidade de imaginar é mais intensa.
A narrativa faz parte da vida da criança desde quando bebê, através da voz amada, dos acalantos e das canções de ninar, que mais tarde vão dando lugar às cantigas de roda, a narrativas curtas sobre crianças, animais ou natureza. Aqui, crianças bem pequenas, já demonstram seu interesse pelas histórias, batendo palmas, sorrindo, sentindo medo ou imitando algum personagem. Neste sentido, é fundamental para a formação da criança que ela ouça muitas histórias desde a mais tenra idade.
O primeiro contato da criança com um texto é realizado oralmente, quando o pai, a mãe, os avós ou outra pessoa conta-lhe os mais diversos tipos de histórias. A preferida, nesta fase, é a história da sua vida. A criança adora ouvir como foi que ela nasceu, ou fatos que aconteceram com ela ou com pessoas da sua família. À medida que cresce, já é capaz de escolher a história que quer ouvir, ou a parte da história que mais lhe agrada. É nesta fase, que as histórias vão tornando-se aos poucos mais extensas, mais detalhadas.
A criança passa a interagir com as histórias, acrescenta detalhes, personagens ou lembra de fatos que passaram despercebidos pelo contador. Essas histórias reais são fundamentais para que a criança estabeleça a sua identidade, compreender melhor as relações familiares. Outro fato relevante é o vínculo afetivo que se estabelece entre o contador das histórias e a criança. Contar e ouvir uma história aconchegado a quem se ama é compartilhar uma experiência gostosa, na descoberta do mundo das histórias e dos livros.
Algum tempo depois, as crianças passam a se interessar por histórias inventadas e pelas histórias dos livros, como: contos de fadas ou contos maravilhosos, poemas, ficção, etc. Têm nesta perspectiva, a possibilidade de envolver o real e o imaginário que de acordo com Sandroni & Machado (1998, p.15) afirmam que:
“os livros aumentam muito o prazer de imaginar coisas. A partir de histórias simples, a criança começa a reconhecer e interpretar sua experiência da vida real”.
É importante contar histórias mesmo para as crianças que já sabem ler, pois segundo Abramovich (1997, p.23) “quando a criança sabe ler é diferente sua relação com as histórias, porém, continua sentindo enorme prazer em ouvi-las”. Quando as crianças maiores ouvem as histórias, aprimoram a sua capacidade de imaginação, já que ouvi-las pode estimular o pensar, o desenhar, o escrever, o criar, o recriar. Num mundo hoje tão cheio de tecnologias, onde as informações estão tão prontas, a criança que não tiver a oportunidade de suscitar seu imaginário, poderá no futuro, ser um indivíduo sem criticidade, pouco criativo, sem sensibilidade para compreender a sua própria realidade.
Portanto, garantir a riqueza da vivência narrativa desde os primeiros anos de vida da criança contribui para o desenvolvimento do seu pensamento lógico e também de sua imaginação, que segundo Vigotsky (1992, p.128) caminham juntos:
“a imaginação é um momento totalmente necessário, inseparável do pensamento realista.”.
Neste sentido, o autor enfoca que na imaginação a direção da consciência tende a se afastar da realidade. Esse distanciamento da realidade através de uma história, por exemplo, é essencial para uma penetração mais profunda na própria realidade: “afastamento do aspecto externo aparente da realidade dada imediatamente na percepção primária possibilita processos cada vez mais complexos, com a ajuda dos quais a cognição da realidade se complica e se enriquece. (Vigotsky, 1992, p.129)”.
O contato da criança com o livro pode acontecer muito antes do que os adultos imaginam. Muitos pais acreditam que a criança que não sabe ler não se interessa por livros, portanto não precisa ter contato com eles. O que se percebe é bem ao contrário., segundo Sandroni & Machado (2000, p.12) “a criança percebe desde muito cedo, que livro é uma coisa boa, que dá prazer”. As crianças bem pequenas interessam-se pelas cores, formas e figuras que os livros possuem e que mais tarde, darão significados a elas, identificando-as e nomeando-as.
É importante que o livro seja tocado pela criança, folheado, de forma que ela tenha um contato mais íntimo com o objeto do seu interesse. A partir daí, ela começa a gostar dos livros, percebe que eles fazem parte de um mundo fascinante, onde a fantasia apresenta-se por meio de palavras e desenhos. De acordo com Sandroni & Machado (1998, p.16) “o amor pelos livros não é coisa que apareça de repente”. É preciso ajudar a criança a descobrir o que eles podem oferecer. Assim, pais e professores têm um papel fundamental nesta descoberta: serem estimuladores e incentivadores da leitura.
A literatura e os estágios psicológicos da criança
Durante o seu desenvolvimento, a criança passa por estágios psicológicos que precisam ser observados e respeitados no momento da escolha de livros para ela. Essas etapas não dependem exclusivamente de sua idade, mas de acordo com Coelho (2002) do seu nível de amadurecimento psíquico, afetivo e intelectual e seu nível de conhecimento e domínio do mecanismo da leitura. Neste sentido, é necessária a adequação dos livros às diversas etapas pelas quais a criança normalmente passa. Existem cinco categorias que norteiam as fases do desenvolvimento psicológico da criança: o pré-leitor, o leitor iniciante, o leitor-em-processo, o leitor fluente e o leitor crítico.
O pré-leitor: categoria que abrange duas fases.
Primeira infância (dos 15/17 meses aos 3 anos) Nesta fase a criança começa a reconhecer o mundo ao seu redor através do contato afetivo e do tato. Por este motivo ela sente necessidade de pegar ou tocar tudo o que estiver ao seu alcance. Outro momento marcante nesta fase é a aquisição da linguagem, onde a criança passa a nomear tudo a sua volta. A partir da percepção da criança com o meio em que vive, é possível estimulá-la oferecendo-lhe brinquedos, álbuns, chocalhos musicais, entre outros. Assim, ela poderá manuseá-los e nomeá-los e com a ajuda de um adulto poderá relacioná-los propiciando situações simples de leitura.
Segunda infância (a partir dos 2/3 anos) É o início da fase egocêntrica. Está mais adaptada ao meio físico e aumenta sua capacidade e interesse pela comunicação verbal. Como se interessa também por atividades lúdicas, o “brincar” com o livro será importante e significativo para ela.
Nesta fase, os livros adequados, de acordo com Abramovich (1997) devem apresentar um contexto familiar, com predomínio absoluto da imagem que deve sugerir uma situação. Não se deve apresentar texto escrito, já que é através da nomeação das coisas que a criança estabelecerá uma relação entre a realidade e o mundo dos livros.
Livros que propõem humor, expectativa ou mistério são indicados para o pré-leitor.
A técnica da repetição ou reiteração de elementos são segundo Coelho (2002, p.34) “favoráveis para manter a atenção e o interesse desse difícil leitor a ser conquistado”.
O leitor iniciante (a partir dos 6/7 anos) Essa é a fase em que a criança começa a apropriar-se da decodificação dos símbolos gráficos, mas como ainda encontra-se no início do processo, o papel do adulto como “agente estimulador” é fundamental.
Os livros adequados nesta fase devem ter uma linguagem simples com começo, meio e fim. As imagens devem predominar sobre o texto. As personagens podem ser humanas, bichos, robôs, objetos, especificando sempre os traços de comportamento, como bom e mal, forte e fraco, feio e bonito. Histórias engraçadas, ou que o bem vença o mal atraem muito o leitor nesta fase. Indiferentemente de se utilizarem textos como contos de fadas ou do mundo cotidiano, de acordo com Coelho (ibid, p. 35) “eles devem estimular a imaginação, a inteligência, a afetividade, as emoções, o pensar, o querer, o sentir”.
O leitor-em-processo (a partir dos 8/9anos) A criança nesta fase já domina o mecanismo da leitura. Seu pensamento está mais desenvolvido, permitindo-lhe realizar operações mentais. Interessa-se pelo conhecimento de toda a natureza e pelos desafios que lhes são propostos. O leitor desta fase tem grande atração por textos em que haja humor e situações inesperadas ou satíricas. O realismo e o imaginário também agradam a este leitor. Os livros adequados a esta fase devem apresentar imagens e textos, estes, escritos em frases simples, de comunicação direta e objetiva. De acordo com Coelho (2002) deve conter início, meio e fim. O tema deve girar em torno de um conflito que deixará o texto mais emocionante e culminar com a solução do problema.
O leitor fluente (a partir dos 10/11 anos) O leitor fluente está em fase de consolidação dos mecanismos da leitura. Sua capacidade de concentração cresce e ele é capaz de compreender o mundo expresso no livro. Segundo Coelho (2002) é a partir dessa fase que a criança desenvolve o “pensamento hipotético dedutivo” e a capacidade de abstração. Este estágio, chamado de pré-adolescência, promove mudanças significativas no indivíduo. Há um sentimento de poder interior, de ver-se como um ser inteligente, reflexivo, capaz de resolver todos os seus problemas sozinhos. Aqui há uma espécie de retomada do egocentrismo infantil, pois assim como acontece com as crianças nesta fase, o pré-adolescente pode apresentar um certo desequilíbrio com o meio em que vive.
O leitor fluente é atraído por histórias que apresentem valores políticos e éticos, por heróis ou heroínas que lutam por um ideal. Identificam-se com textos que apresentam jovens em busca de espaço no meio em que vivem, seja no grupo, equipe, entre outros.É adequado oferecer a esse tipo de leitor histórias com linguagem mais elaborada. As imagens já não são indispensáveis, porém ainda são um elemento forte de atração. Interessam-se por mitos e lendas, policiais, romances e aventuras. Os gêneros narrativos que mais agradam são os contos, as crônicas e as novelas.
O leitor crítico (a partir dos 12/13 anos) Nesta fase é total o domínio da leitura e da linguagem escrita. Sua capacidade de reflexão aumenta, permitindo-lhe a intertextualização. Desenvolve gradativamente o pensamento reflexivo e a consciência crítica em relação ao mundo. Sentimentos como saber, fazer e poder são elementos que permeiam o adolescente. O convívio do leitor crítico com o texto literário, segundo Coelho (2002, p.40) “deve extrapolar a mera fruição de prazer ou emoção e deve provocá-lo para penetrar no mecanismo da leitura”.
O leitor crítico continua a interessa-se pelos tipos de leitura da fase anterior, porém, é necessário que ele se aproprie dos conceitos básicos da teoria literária. De acordo com Coelho (ibid, p.40) a literatura é considerada a arte da linguagem e como qualquer arte exige uma iniciação. Assim, há certos conhecimentos a respeito da literatura que não podem ser ignorados pelo leitor crítico.
A Importância dos Contos de Fadas na formação da Personalidade
Os contos de fadas exercem uma influência muito benéfica na formação da personalidade porque, através da assimilação dos conteúdos da estória, as crianças aprendem que é possível vencer obstáculos e saírem-se vitoriosas, especialmente quando o herói vence no final. Isso ocorre porque, durante o desenrolar da trama, a criança se identifica com as personagens e “vive” o drama que ali é apresentado de uma forma geralmente simples, porém impactante. Conflitos internos importantes, inerentes ao ser humano, como a inevitabilidade da morte, o envelhecimento, a luta entre o bem e o mal, a inveja, etc. são tratados nos contos de fadas de modo a oferecer desfechos otimistas.
Desta forma, oferece à criança uma referência para elaborar os terríveis elementos ansiógenos que habitam seu imaginário, como seus medos, desejos, amores e ódios, etc., que na sua imatura e concreta perspectiva apresentam-se amedrontadores e insolúveis. Esse aprendizado é captado pela criança de uma forma intuitiva (por estarem os elementos sempre carregados de simbolismo) tornando-se muito mais abrangente do que seria possível se fosse feito pela compreensão meramente intelectual. Acredita-se que o efeito integrador que os contos de fadas têm sobre a personalidade seja o fator responsável pelo fato de terem resistido à passagem do tempo e terem se universalizado.
Cada vez mais surgem evidências de que os sistemas de crenças produzem efeito decisivo sobre o funcionamento do ser humano, tanto psíquico quanto fisiológico, de modo que crenças que nos infundem esperança de vitória são de grande ajuda na superação de dificuldades, mesmo na vida adulta. alguns autores vão mais além ao afirmar que se, por qualquer razão, uma criança for incapaz de imaginar seu futuro de modo otimista, ocorrerá uma parada no seu desenvolvimento geral. E trazer mensagens da vitória do bem sobre o mal é o que os contos de fadas fazem com maestria. Evocam sempre uma verdade atemporal. A criança, internamente, fará a transposição para a sua realidade atual. E em função de suas necessidades psíquicas momentâneas, irão reelaborando seus conteúdos internos através da repetição da estória. É por isso que tão comumente vemos as crianças pedirem a seus pais que repitam a mesma estória inúmeras vezes (ou desejam ver o mesmo filme repetidamente), que a contem novamente sem nenhuma modificação: trata-se da referência que ela está usando para compreender-se, para elaborar suas angústias ainda não resolvidas. Além disso, a repetição lhe dá uma confirmação do conteúdo que ela está processando. Ela precisará dessa confirmação até que o conflito interno esteja solucionado. Só então deixará de solicitar aquela estória.
Outra função importante dos contos de fadas é a de resgatar o “tempo da alma”, pois a vida infantil precisa cumprir cada etapa do seu desenvolvimento para que uma estrutura psíquica equilibrada possa ser elaborada. A alma tem um tempo próprio, característico, ainda ditado pelos ritmos da natureza, que não costuma ter pressa. O “tempo da alma” é que regula o passo das fases do amadurecimento humano, em oposição à ansiedade e acúmulo de demandas, cobranças e pressões de toda sorte que a sociedade moderna exerce sobre os indivíduos, mesmo sobre as crianças. A prática do compartilhamento dos contos de fadas (pais lendo ou contando para os filhos, professores para os alunos, etc. com posteriores conversas sobre a estória) deve ser estimulada porque nessa atividade fica mais fácil para as crianças falarem sobre suas angústias, partilhar suas dúvidas e ansiedades sem se expor pessoalmente. Isso é possível, pois, ao comentar uma estória, estarão falando dos seus sentimentos, mas não diretamente de si próprias, já que estarão utilizando o recurso das personagens e de uma situação fictícia como apoio. Deve-se, preferentemente, escolher estórias que apresentem um final feliz. Vale lembrar que, em meio a esse tipo de atividade, não cabe qualquer espécie de julgamento moral ou censura. O que importa aqui não é ensinar às crianças como se comportar (o que, por sinal, a própria estória já faz, de uma maneira muito mais rica e ilustrativa, ao mostrar as conseqüências dos atos de cada um), mas oferecer às crianças a oportunidade de expressarem suas dificuldades emocionais de uma maneira protegida.
Sintetizando, os contos de fadas passam às crianças a mensagem de que na vida é inevitável ter que se deparar com dificuldades, mas que se lutarem com firmeza será possível vencer os obstáculos e alcançar a vitória.
Para a escritora Ana Maria Machado, os contos de fadas pertencem ao gênero literário mais rico do imaginário popular.
"Essas histórias funcionam como válvula de escape e permitem que a criança vivencie seus problemas psicológicos de modo simbólico, saindo mais feliz dessa experiência."
A idéia foi difundida após a divulgação dos estudos do psicólogo austríaco Bruno Bettelheim (1903-1990). Para ele, nenhum tipo de leitura é tão enriquecedor e satisfatório do que os contos de fadas, pois eles ensinam sobre os problemas interiores dos seres humanos e apresentam soluções em qualquer sociedade. Ou seja, a fantasia ajuda a formar a personalidade e por isso não pode faltar na educação. "A criança aumenta seu repertório de conhecimentos sobre o mundo e transfere para os personagens seus principais dramas", diz a terapeuta Mariúza Pregnolato Tanouye, de São Paulo.
Desenvolvimento:
Os alunos freqüentam o ambiente da Sala de Leitura uma vez por semana (com cronograma previamente agendado), onde a professora promove atividades diversificadas num ambiente próprio com: som, fantoches, almofadas, livros de qualidade, tapetes, entre outros. Estando sempre buscando novas estratégias para o uso da sala, onde todos (alunos, professores, coordenação, direção), em algum momento tornam-se leitores para si e para o outro.
O trabalho é diversificado levando em consideração a maturidade de cada turma e não esquecendo a importância do contar e o ouvir histórias.
Conforme cronograma anexado abaixo, teremos este trabalho em ciclos, levando a uma sistemática de:
O leitor iniciante e o leitor-em-processo
(2º Período, 1º, 2º e 3º anos):
1º Semestre
Ciclo de 03 semanas
1ª semana: Conto
2ª semana: Trabalhos diversificados para a compreensão, oralidade da criança e reconto; (uso de fantoches, baú de objetos para o reconto, termine a história, etc);
3ª semana: Manuseio aleatório pela criança de livros, para folhear, inventar e o observar.
2º Semestre
Neste período, será escolhido para leitura alguns contos para serem lidos naquela semana com um cronograma pré-estabelecido, montado cartaz para sua divulgação na escola e os alunos se inscreverão para as sessões em sala de aula, isto quinzenalmente e na semana que não houver tal sessão os alunos continuarão a manusear os livros para seu divertimento.
O leitor-em-processo e o O leitor fluente:
(3ª e 4ª série)
1º Semestre:
Conto, e trabalho sobre o imaginário sobre o final do livro;
Trabalhos diversificados para a compreensão, oralidade da criança e reconto;
2º Semestre
Empréstimo para os alunos de obras diversificadas da Sala de Leitura;
Cronograma de Atendimento
Turno matutino
369 (trezentos e sessenta e nove) crianças
Turno vespertino
160 (cento e sessenta) crianças do 2º e 3º anos e
306 (trezentos e seis) crianças de 3ª e 4ª série, que a partir do 2º semestre levarão livros emprestados para lerem.
Estrutura para atendimento destas crianças na Sala de Leitura:
Colchonete de 14 m2 (4m x 3,5 m);
06 (seis) prateleiras de 04 metros de comprimento para os livros;
Aquisição de livros infanto-juvenis e infantis;
Almofadas;
Caixinha de som ;
Ventilador;
Caixa de dedoches e fantoches e
Baú de figuras e gravuras para o reconto.
Anexo:
Na Sala de Leitura, terá uma moradora, a Sapinha Sebastiana, que chegou à Escola Agrovila, trazida pelo desejo de conhecer mais sobre os livros.
A história dela é a seguinte:
Certa vez uma sapinha chamada Sebastiana encontrou livros e revistas jogadas no córrego onde morava, o Córrego Piriripau, amava folheá-los, ver as gravuras, inventar histórias, até que um dia viu umas crianças passando por uma pontezinha que cobre o córrego e notou que carregavam livros parecidos com aqueles que ela tanto gostava e decidiu então segui-las.
Adivinhem aonde a Sebastiana foi parar?
Na Escola Classe Agrovila, e ela achou uma sala que tinha um monte daqueles livros e revistas, que ela tanto gostava a Sala de Leitura, ela não queria mais sair dali, pediu que pediu para ficar e a tia Aretusa que é a tia da Sala de Leitura vendo a felicidade dela, resolveu deixar que ela ficasse na condição que aprendesse como as outras crianças a ler para que realmente desfrutasse do maravilhoso mundo da fantasia que são os livros.
Esta moradora fará parte do descobrimento das crianças pelo desejo de ler e de descobrir o mundo da imaginação e da fantasia.
Ela participará de eventos da escola, mandará bilhetinhos para as turmas, respeitando as fases a que passa qualquer criança na alfabetização.
Aretusa Nery
faltou a bibliografia, pois estou com dificuldades em montar um projeto para a minha especialização, pois o tema escolhido tem tudo haver com este mais estou precisando da bibliografia se tiver como me emviar para uma melhor pesquisa será muito gratifiacante
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